11 de setembro de 2018

Sem Título 111

Com olhos novos posso rever rostos inéditos
contemplar a mudança dos prédios.
Lembrar do que vi na infância,
suspirando admirado, frente a tanta mudança.

Mas relato nessas linhas espirituais
relatos de um ex-cego de tempos atrás.
Conto com certo acanhamento todo o ocorrido:
Acho que estou enxergando mais que o merecido.

De início eu via o rosto daqueles porquem chamo de amigo
daqueles que chamo de irmão com toda minha potência
disse que eles eram lindos com todo o coração (já sofrido)
e distribuia "eu te amo" com bastante frequência.

do que você está rindo?
há algo por aqui engraçado?
sua insensatez consegue deixá-lo tão frio
ou realmente não consegue entender meu estado?


Comecei a ouvir obrigados ao invés de gratidão
comecei a ver coisas além compreensão.
Percebi que minhas contas estavam mais claras,
mas alguma coisa ainda parecia estar errada.

As plantas torna-se-iam cada vez mais fantásticas
exuberantes em cores além plásticas
conseguia enxergar a vida com um olhar mais artistico,
mas esqueci que quem vê a arte, também corre risco.

Notei amores, vi o rosto dela, seu sorriso irradiante,
cheguei até a chamar de opaco qualquer cristal de diamante,
imergia-me em cervejas e cigarros vagabundos,
afinal o branco da fumaça era ainda mais puro.

do que você está rindo?
há algo por aqui engraçado?
sua insensatez consegue deixá-lo tão frio
ou realmente não consegue entender meu estado?


O médico recomendou que eu tomasse cuidado,
a lente poderia se deslocar com movimentos brados,
mas ele deveria ter avisado algo que jamais imaginaria:
que eu me arrependeria de enxergar a vida.

Na pressa acabei contemplando um lado bom também,
caminho pela chuva sem embaçar a vista
mas meu espirito sempre conseguiu ser lavado (amém)
mesmo que com lentes mais ríspidas.

Eu consegui olhar meu rosto, talvez quase sem vida
identifiquei minhas rugas, todas contando histórias
vi o quanto meu sofrimento se acumulou em tons de cinza
de noites fantásticas de depressões sórdidas.

do que você está rindo?
há algo por aqui engraçado?
sua insensatez consegue deixá-lo tão frio
ou realmente não consegue entender meu estado?

Fugir tornou-se algo inadimissível,
agora além de sempre escutável, tudo era visível.
Passei a tentar ver o lado bom das coisas, filosofia banal
mas era cada vez mais difícil achar algo naquela bagunça descomunal.

E queria uma ajuda franca
talvez bem mais que palavras
queria abraços honestos
palavras para além do bem e da alma

Eu queria ver espiritos aqui
além da menina na mangueira
espiritos que pudesse se comunicar
ver além da casca e do enfeitar.

do que você está rindo?
há algo por aqui engraçado?
sua insensatez consegue deixá-lo tão frio
ou realmente não consegue entender meu estado?

Talvez você não entenda, o que eu quero dizer
forte densidade emocional não é para todo ser
a maioria só consegue fingiramar um unico coração
não porque ama com a alma e sim porque afunda-se em paixão.

Talvez eu devesse esquecer minhas lentes
deixá-las cair por ai,
na busca de que um ser mais frio e pálido
pudesse algo realmente ver e vir.

Isso seria covardia um tom desproporcional
e eu enxergo marra em mim muito antes do normal
e se tu recusas a mão a mim, eu sentirei a dor
senti a saudade dela, de um amor que nunca chegou.

Como já senti a saudade de tantos, tu nuncas imaginou
outros amigos, passados, amores, canções, sábados, frios.
teclas, jogos, sorrisos, cafés, fones de ouvido, desatinos,
amigos imaginários, receitas mal sucedidas, hematomas.

do que você está rindo?
há algo por aqui engraçado?
sua insensatez consegue deixá-lo tão frio
ou realmente não consegue entender meu estado?

Meu cansaço vai para além do que se pode obrigar
demanda um pensamento e um pensar:
até quando meu sonho será suficiente
para a dureza da vida aguentar.
Até meu choro tornou-se escasso
as lágrimas andaram viajando,
a tristeza vem mais afunda em si,
como um poema sempre se contando.

Minhas lentes mostraram verdades
além da insensibilidade que devo aprender a ter
é preciso ter mesmo assim em mente:
Depois que anoitece, sempre torna a amanhecer.

Nessa alvorada que surgirá, teu riso nem me importará
nem o dela, nem o dele, nem o seu, caro leitor
já terei desistido de canções e cartas de amor
e ficarei mais próximo da essência pura do vagar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário