4 de maio de 2018

Sem Título 107

Começo meus versos numa certa inquietude
são três e meia da tarde, calada e monótona
em meu lado esquerdo contas refeitas em plenitude
e a direita uma xícara de café igualmente parada.

Passa pela cabeça ao digitar em desespero
mil poemas, lamúrias, dores, escárnios, fúrias
penso nos amores, nos fervores, amigos, lampejos
meus pés descalços tocam a sala de estudo, de murmúria

Subitamente me passa memórias que queria desapegar
ou até momentos que eu queria dizer pra tu, leitor
sentar num banco da praça sem ver teu rosto a me olhar
e simplesmente contar da minha vida, sem amor.

Deixar debandar as palavras até que a garganta seque.
até que meus olhos pensem em lacrimejar e eu pisque
até que minhas costas doam de tanto ficar sentado e eu levante
e simplesmente vá embora, pensando que antes de mais nada, falei.

Penso nas compras de amanhã, no investimento
será que meu trabalho findará corretamente?
penso em quantos esqueceram e lembraram de mim no momento
será que eu consigo ser normal, finalmente?

Há buracos que nem álcool nem o cigarro da noite passada fecham
mas esqueço que vocês sumiram, vocês me ouviram, me aplaudiram.
há relatos que surgem em companhias vagas e efêmeras
mas que recordo da importância pontual que tem, como estrelas.

Carrego meu celular, olho o jantar da universidade
penso em sair com os colegas que fiz na nova cidade
o tempo passa e eu só lembro do que queria esquecer
a vontade que se tem de constantemente se deixar envolver.

Enquanto prendo tu, ingênuo leitor em linhas fracas
tu nem percebe que já estamos no banco
que estou olhando tua cara sem olhos, nariz, boca ou cara.
e que pouco já estou me cansando.

Não posso esquecer de minhas músicas
carrego minha demência de dante à deni num instante
crise de limitrofia ambulante e face rústica
que caminha entre letras, seguindo adiante.

Meus ouvidos talvez sejam o sentido mais traiçoeiro
não confundo com eles o azul das coisas
também não deixo de sentir cheiro com aperreio
escuto tudo, desde vozes até pragas daquele nevoeiro.

Eu sou simplesmente essa pilha de assuntos confusos
inacabados, mas que todos acham que está perfeitamente ordenado
sou apenas o resto daquele soldado, que passa por mil apuros
consequências de ser um anarquista tão bem organizado.

Escuto ao longe o café da máquina, meus colegas estudam piamente
eu estou escrevendo no computador minha vida, minha ida, minha mente
enquanto tu, tu nem sabes que eu existo, leitor...uma estrela DEcadente
são três e trinta e um, passaram-se apenas segundos... sem rima.

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