24 de janeiro de 2018

Sem Título 104

Ao me olhar no espelho
reconheci como nunca antes
vi que era um lobo verdadeiro
com presas, garras e nuances.

O lobo é criado e colhido com afeto
pela sua mãe loba e seu pai canis
cresce com gritos, deveres e uivos
aprende a morder sem perguntar antes.

O jovem animal nota que deve ser forte
e seu caminho é logo traçado
ou torna-se algo que possa ser um norte
ou por outros bichos é matado.

Ele entende que a sua velha matilha é efêmera
que logo logo deve aprender a guiar-se
que o escuro da noite e a lua primeira
são os únicos confortos para refugiar-se

Ele até procurou se entrosar com outros
mas viu que isso não funcionava bem
não se pode confiar em outros lobos
eles não são bons ombros de ninguém.

Pensou até ter encontrado
outro animal em lamúria
mas com pouco tempo passado
viu que só a solidão o atura.

Apaixonado pela lua, e claro
pela liberdade de uivar
o jovem lobo se tornou velho
e começou a desapegar.

Resolveu não construir matilha
talvez não seja a hora certa
falta-lhe além de loba guia
alicerces para tal tarefa.

Seguiu o caminho dos vagos
e põe-se sempre andar
por ai as vezes é escutado
com seu próprio mudo uivar.

De remédio aprendeu a lambida
de caminhar aprendeu a ir
de gritos, só silêncio ouvia
de carona, preferiu não pedir.

Pouco a pouco seu rastro some
até um mínimo infinitesimal
o pequeno canis lupus come
seus desejos, afinal.

Com seu caminhar sombrio
e seu olhar indecifrável
sendo eu, ele, somos, lobo
um fato admirável.

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