16 de agosto de 2017

Sem Título 96

Depois de dedos frios
dispendidos de falar
enebriados de desatinos
esquecendo-se do sentir e pensar.

Eis que volto grande angústia
volto a chagada escrita
pra contar não mais que nada 
que os pequenos males da vida.

Me pedem pra que escreva
me dizem pra não desistir
mas porque querem que eu cresça
se não querem nem me ouvir?

Ah chagadas noites...
lágrima, cafe frio e fone de ouvido.
Estes são talvez os únicos persistentes
de tanto conviver, já os tornei parentes.

---------------- canto 2 ----------------

E algumas vezes, quando escurecendo,
me vem um impulso maldito,
vejo sangue e todos morrendo
e eu fico feliz sendo assassino.

Por outras sou um sôfrego piadista
que pena à poucos risos
mistura graça com lágrima na pista
sofro calado sem ser notado ou visto.

Mas é de um narcisismo
o orgulho desse poeta
que se auto denomina, labirinto,
louco, anjo, demônio das ideias.

E eu ainda espero no fim de um ciclo
que alguém chegue aqui
e me tire de uma vez por fim
de tudo que pesa no existo.

Eles são nada criança
e tu é tua única certeza
não há fiel aliança
nem intermitude verdadeira.

---------------- canto 3 ----------------

Perceber que mamãe é briguenta 
mas ainda que sonolenta
faz de vísceras, banquete
e de lixo, palacete.

Perceber que papai me restringe
mas que ainda que chato,
no final de cada ato
é só sua presença que surge.

E meu palácio alvorado
rico e epicurista
mudou de destinatário
e retorna para a família.

Aprendo que é pedir de mais do outro
alguém de presença perfeita
mas que a vida sempre mostra
coisas bonitas à espreita.

---------------- canto 4 ----------------

Eu sei que não coleciono amizades
compreendo que tudo é quebrável...
eu sei que sou descartável
exceto para aqueles que são de verdade.

Mas a certeza é ainda 
renascer com as feridas,
mas que saudade bate...
daquela infância vazia... 

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