20 de agosto de 2016

Sem Título 81

Eu moro na favela
sou do pirambu
muita gente me olha torto por isso 
alguns riem por que digo que moro aqui... 
como se eu vivesse numa civilização retrógrada 
me criei na periferia 
soltando raia na infância 
essa que vocês chamam de pipa 
soltei pião 
brinquei de bola 
até de sete pecados 
mas não sou eu o pecador 
nem meus pais 
que sofreram desde sempre 
por que são da periferia.
quando ia pro colégio, 
via as crianças 
faltando aula 
por muitos motivos 
mas algumas por não ter comida... 
A gente nunca teve festa com investimento 
só que a gente fechava a rua 
pra comemorar festa junina, 
pra pular carnaval, 
pra desejar bom ano novo, 
sentados na calçada. 
Mas hoje a favela ficou estressada 
o pessoal todo ficou irritado 
com o carrinho do asfaltamento chegando 
como se fosse um lixão 
nos deram restos 
restos de piche 
restos de asfalto 
restos de importância 
O pirambu não precisa disso, né? 
Pegaram o que sobrou 
da galera elitizada 
e fingiu que asfaltava o chão 
ai uma senhora 
olhou pra mim e falou 
é claro né meu filho, é ano de eleição! 
Todo mundo já sabe 
que o pirambu é isolado 
e só é lembrado 
quando precisam de dedos apertando: 
confirma, confirma, confirma... 
O nome não importa 
mas parece que esse é Roberto 
o final nem é incerto... 
tu só quer mais um voto 
afinal tu precisa da gente 
pra ganhar a eleição 
da comunidade carente 
que alguém lembra não. 
E quando passar esse ano 
o asfalto quebra 
e tudo fica igual 
as crianças ainda passarão fome 
e a gente ainda vai dar um jeito 
Mas tu não vai ter o direito 
de receber meu voto não. 
Depois a gente some 
e volta a ser isolado 
voltam a rir da gente 
mas a gente nunca se fez de coitado. 
E por mais que os frescos ricos 
reneguem minha farofa 
minha panelada, 
minha galinha cabidela 
meu ovo frito na panela 
minha farinha parceira 
digo que moro no PIRAMBU 
com orgulho 
e o que aprendi aqui 
levo pra vida inteira!

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