Tenho que dizer a você que tudo isso interfere
o modo como escrevo esses textos pobres
a lágrima que cai num grito mudo da noite
o silêncio interrompido por cada tic-tac do relógio
alternado dos tacs-tacs do teclado
Se escrevo a noite me sinto refugiado na própria folha
se escrevo de dia, me sinto como a folha.
Se uso lápis, coisa que é rara, acabo por ser mais humano
prestando atenção na circulação sanguínea que passa no dedo
A música também influencia, seja pop ou rock
a batida interfere com o compasso das rimas
tudo isso interfere enquanto estou no processo
uma coisa tão massiva que não sei se faço ou se sou feito.
Se converso com alguém enquanto escrevo
se anseio a conversa com alguém
se desejo o descobrir da vida, as novas respostas
ou se simplesmente sou esmagado pelas novas interrogações
também me interfere como eu estou
se estiver doente ou desconfortável
o poema tende a ser mais instável
Também difere o colorir das coisas ou a minha cegueira
algumas vezes olho a janela esperando um anjo qualquer
quando imagino minha infância, sempre isso interfere...
quando paro para corrigir um erro de português
quando surgem favores e pedidos desaforados
barrados por vozes não por mim apreciado.
há uma interferência em cada poema
um desejo incontrolável pelo normal
uma busca incessante pelo que é concebido como o desejado
bem como o desejo de disfarçar parte da inveja que me dilacera
fazendo-me ruir em um ser humano fracassado em melhorar.
Não o bastante eu gosto desses poemas
que eu escrevo sem nem piscar, sabe-se lá como
gosto desses que me fazem sentir falando sem dizer nada
numa lágrima que escorre o rosto perguntando: onde está minha alma
onde está minha alma
onde está
minha alma que deveria estar aqui
onde minha alma está
onde minha alma quer estar?
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