9 de janeiro de 2015

Sobre o ouvir e a música

Os cinco principais sentidos do ser humano, a visão, o olfato, o tato, o paladar e a audição. Todos são importantes para a vida, mas para mim, este ultimo se sobressai. O ouvir...O quão fantástico é o ouvir. O mundo em toda sua concepção poderia ser sem cor, ou até mesmo completamente sem visão. Ele também poderia não ter nenhum aroma ou cada coisa poderia ter a exata mesma textura. As comidas poderiam ser sem gosto, mas não consigo pensar em um mundo sem som. Ouvir é uma dádiva que possibilita o próprio aprender da vida. Um mundo cego, inodoro, não tátil e insípido é mais confortável que um mundo mudo. O ouvir te faz notar o falso, o amigo, o distante, o próximo, o triste, o alegre, o agradável e o desagradável.

E diante de todas as dissonâncias possíveis, eis que surge a música! ah que alegria é tê-la! Os meus amigos de carne e sangue como eu, os amigos de celulose que contam inúmeras histórias e os amigos fantásticos que se escondem debaixo do travesseiro do meu eu imaginário...Peço desculpas a todos, mas não há nada mais confortante, amigo inseparável, irmão de tantas sensações do que o som: seja das aves, do destrancar da porta ou até mesmo da conversa. E não há amiga mais próxima, irmã de toda a minha existência do que a música. Música é uma forma de fazer com que as garras de aço da vida que dilaceram a minha carne (rompendo o meu ser em pedaços podres, lenta e amargamente até o fim do meu respirar) parem um pouquinho só e me façam voltar a um estado de nidação. Sempre que escuto alguma música que me seja boa (um conceito bem relativo) tenho espasmos por toda a coluna vertebral, arrepio-me...Parece que ali o meu corpo descansa e meu coração remendado grita ao meu cérebro oco: Estou vivo, estamos vivos.

Dessa forma não há solidão, amargura ou sofrimentos que se eternizem. Basta uma canção, uma música e eu consigo me projetar em sentimentos agradáveis sejam eles de recordações, de fortitudes, de vicissitudes, de amarguras ou de reflexões em sua forma inicial. Não sou acompanhado de pessoas durante todo o meu tempo, mas creio que basta uma música seja ela qual for e eu volto a ter companhias, multidões habitam meus ouvidos...

Entretanto existe uma melodia especial que só se escuta quando é autorizado por ela mesma, uma música especial que só embala a mente mais corajosa ou curiosa. Só estas são dignas de ouvi-la, bem como de apreciá-la. Esta melodia não é complexa, mas deixa seus ouvintes perplexos com sua construção. Ela também não vale nada, mas surpreende quem escuta com seus valores deixados. Eis então o nome dessa melodia: O silêncio. A mente mais despreparada, enlouquece, e a mais medrosa vai sempre procurar um refúgio em outros sons (ainda que sejam ruídos e não músicas) para não ouvir seus ensurdecedores acordes. O silêncio é dos filósofos, dos pensadores, dos poetas, dos curiosos, dos corajosos e ao mesmo tempo apenas de si mesmo.

A música que existe no mundo é uma dadiva da própria existência, é como se o sistema fosse completamente auto destrutivo, mas tivesse uma falha na sua matriz. Sendo assim a música não apenas uma melodia que causa diferentes sensações em diferentes pessoas, mas sim uma arte da natureza, da vida. A mesma vida que insiste em destruir com seus castigos de pai, acolhe com seus afagos de mãe.

Quão pouco é preciso para ser feliz! O som de uma gaita. - Sem música a vida seria um erro. Friedrich Nietzsche

A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende. Arthur Schopenhauer

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